Ano passado tive o prazer de encontrar o ótimo texto do Jornalista José Teles do Jornal do Commércio sobre o estado atual do Forró. Ele descreve o panorama da tendência musical (recuso-me a chamar de ritmo) como preocupante nos textos “A música dos valores perdidos” e arremata o assunto em “Para encerrar o papo sobre fuleiragem music“. Vou transcrever partes do texto dele aqui para deixar algumas considerações:
“Tem rapariga aí? Se tem levante a mão!”. A maioria, as moças, levanta a mão.
Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, de todas bandas do gênero). As outras são “gaia”, “cabaré”, e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.
Nessa primeira parte ele dá um tapa com luva de pelica na cara de 95% das bandas da atualidade que acreditam tocar forró. É impressionante como assuntos como chifre, cachaça, carro de som, paredão, rapariga, raparigueiro são recorrentes no contexto musical do forró atual. Chega a causar asco, nojo mesmo. Raras são as músicas que não falam disso, lembram-se do Disco 3 do Aviões? É, eles estouraram para o Brasil com aquele disco e quem não lembra, as músicas tinham mais letra, mais melodia… Hoje só restou um tal de “Chupa que é de uva”, mau gosto puro.
Capa de CD de “Forró”
Ele cita no outro extrato abaixo algumas “músicas” e seus intérpretes.
Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.
Acho que essa parte dispensa qualquer comentário. Infelizmente é esse tipo de “forró” que temos que conviver atualmente. Letras que vangloriam o consumo de álcool, vulgarizam as mulheres e as relações sexuais e que nos deixam à beira de um abismo de valores. Onde iremos parar assim? Nossa tradição forrozeira descende de uma linhagem da melhor qualidade. Os que executam forró nos dias de hoje não honram o legado de Luiz Gonzaga e seus contemporâneos.
O Forró morreu para um dia voltar…
A fuleiragem é música comercial no pior sentido do termo. Tudo bem que seja. Afinal, talento é pra quem tem, não pra quem quer ter. Agora, chamar aquilo de forró é um desrespeito à memória de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Abdias, Marinês, Jacinto Silva, Marinalva, Zito Borborema, Cobrinha, Lindú e Coroné (do Trio Nordestino), e tantos outros.
Fico pensando no futuro da tendência musical quando constato que os maiores sucessos do “Forró” atual são músicas derivadas do Sertanejo, Samba e por ai vai. Prefiro nem comentar sobre as “adaptações” de músicas americanas para o Forró porque já seria piada de mau gosto. Seria interessante se essas pseudo-bandas fossem processadas pelos artistas estadounidenses, afinal é um duplo desrespeito deturpar a letra original colocando a temática bebida, rapariga e carro de som.
Para finalizar esse texto vou transcrever a letra de uma música Sertaneja (isso mesmo, você não leu errado) que conquistou minha admiração pela simplicidade e poesia na qual ela passa sua mensagem. É nesse manancial que o Forró tem que beber, de água pura da poesia e inspiração.
Essa imagem que vem a mente ao escutar a música da dupla Victor e Léo, dá uma vontade danada de ir morar lá no sertão…
Deus E Eu No Sertão
Composição: Victor Chaves
Nunca vi ninguém
Viver tão feliz
Como eu no sertão
Perto de uma mata
E de um ribeirão
Deus e eu no sertão
Casa simplesinha
Rede pra dormir
De noite um show no céu
Deito pra assistir
Deus e eu no sertão
Das horas não sei
Mas vejo o clarão
Lá vou eu cuidar do chão
Trabalho cantando
A terra é a inspiração
Deus e eu no sertão
Não há solidão
Tem festa lá na vila
Depois da missa vou
Ver minha menina
De volta pra casa
Queima a lenha no fogão
E junto ao som da mata
Vou eu e um violão
Deus e eu no sertão
P.S.: Sim, estou apreciando Sertanejo agora depois dessa descoberta. Podem descer a ripa nos comentários.
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