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Ceará de todos e de ninguém


Evaldo Gouveia – Bloco da Solidão

Afinal de contas, o que define um povo? Qual definição seria mais fidedigna para estanciar e determinar com palavras claras, sem dubiedade, qual conceito de povo?

Hoje essa dúvida veio a minha cabeça, estou ainda sem entender a idéia geral que permeia este conceito. A culpa é bem nossa… É da gente mesmo. Hoje presenciei a apresentação, quer dizer, metade da apresentação da Spok Frevo Orquesta no Aterrinho da Praia de Iracema aqui em Fortaleza. Uma apresentação de uma Orquestra de Recife em pleno solo Alencarino.

A quem interessava? A poucos! Enquanto a massa se despedia dos paredões de som que ejaculavam forró elétrico, subproduto cultural da massa que se vende por qualquer coisa, poucos resilientes nadavam contra a maré procurando sorver um pouco do que vem de fora, do que não é nosso.

Vi sim figurinhas carimbadas, aquelas mesmas que sempre encontro por ai nos eventos. E quem mais se destacou nesse Bloco da solidão do Evaldo Gouveia? Se destacaram eles, os extraterrestres, os invasores, aqueles que trouxeram um ritmo que não sendo nosso mesmo assim se fez presente e pela maioria é solenemente ignorado.

Pois é… Foi frevo ali perto do Largo do Mincharia. Aquela mesma Praia de Iracema, praia dos amores que o mar carregou… E o que o nosso povo aproveitou? Nada! A festa foi deles, dos Pernambucanos. Estes se sentiram mais em casa. Sentiram-se em Recife, nas Ladeiras de Olinda. Eles agradeceram a Prefeitura de Fortaleza por transformar nossa Casa na Casa deles durante duas horas.

Restou-me resignar-se na Praça do Ferreira, empunhar meu estandarte mais um ano torcendo que um dia nossa cultura seja modificada e que tenhamos uma identidade cultural. Que tenhamos um cartão de visitas que onde nós estivermos possamos ser identificados como o povo da terra das dunas brancas.

Hoje reconheci um povo que mesmo longe de sua “pátria amada” pôde ser bem reconhecido. Independente de Raça, Cor, Credo, Religião e preferência clubística ali estavam eles, os Pernambucanos. E nós? Como nós nos reconhecemos fora de nossa Terra? Essa dúvida atroz vai dormir comigo nesta noite. Mas um dia quem sabe…

Bloco da Solidão
Evaldo Gouveia e Jair Amorim
Composição: Evaldo Gouveia e Jair Amorim

Ángústia, solidão
Um triste adeus em cada mão
Lá vai, meu bloco vai
Só deste jeito é que ele sai
Na frente sigo eu
Levo um estandarte de um amor
Amor que se perdeu
No carnaval lá vai meu bloco
E lá vou eu também
Mais uma vez sem ter ninguém
No sábado e domingo
Segunda e terça-feira
E quarta feira vem
O ano inteiro é sempre assim
Por isso quando eu passar
Batam palmas para mim

Aplaudam quem sorrir
Trazendo lágrimas no olhar
Merece uma homenagem
Quem tem forças pra cantar
Tão grande é minha dor
Pede passagem quando sai
Comigo só
Lá vai meu bloco vai
Laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá
Lalaiá, lalaiá
Laiá

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