A primeira impressão ao aqui chegar, já se vão 16 anos, era de espanto e riso. A tez da cidade grande não era tão opressora. A natural repulsa ao estranho, ao “estrangeiro”, não se fazia de forma rude. Era a galhofa que saltava! E uma galhofa que não se mostrava agressiva, que de tão tenra, tão meiga despertava o riso mesmo em mim, o objeto da piada!
Fui, aos poucos, conhecendo e adorando esse jeito moleque, bem humorado, zombeteiro. Logo pensei, claro, imagina o Carnaval dessa gente! Se já vivem o espírito momino todo dia, em fevereiro então.
Ledo engano. Chegada a época, dava-se a diáspora! E era cearense espalhado por todo lado, enquanto na Capital a paz e o sossego imperavam. Sim, é verdade, seria injusto não lembrar do hérois que sempre fizeram, e fazem, o Carnaval local. Mas era estranho notar que, em sua maioria, quem tinha uns trocados guardados se mandava pra qualquer lugar.
– “Vai brincar Carnaval?”
– “Não, vou ficar em Fortaleza mesmo!”
Curioso, e desinformado, sondei por toda parte buscando explicação pra isso. Me devolveram incontáveis razões históricas, culturais, religiosas etc. Nenhuma delas chegou a aplacar minhas dúvidas. Ao mesmo tempo, em Roma, fiz como os romanos. E varei carnavais pelo País. Inevitável, em qualquer reduto carnavalesco os cearenses se atraíam e se encontravam, mostravam a que vinham, divertiam a si e aos outros e, sempre, chamavam a atenção pela irreverência!
Há alguns anos, comecei a notar o crescimento dos festejos Pré-Carnavalescos. Há quatro resolvi conferir e foi amor à primeira vista! Era justamente o que sempre pensei que fosse. A alma desse povo vestida pra brincar. E vi, por toda a cidade, blocos e agremiações crescerem e se multiplicarem. De tal forma que, acredito eu, “não tem mais volta” e a tendência é de se enraizarem cada vez mais nos costumes dessa cidade.
Então finalmente entendi. Brincar mesmo, colorir toda a gente de alegria, aqui no Ceará, fazemos antes da festa! Porque, nos quatros dias do reinado de Momo, gostamos mesmo é de espalhar essa alegria Brasil afora!
Jason Fernandes, advogado, é cearense por adoção (jasonauta@hotmail.com)
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